As Amarras do Coração: Como Romper Ciclos Infelizes em Relações abusivas
- Alessandra Hartveld
- 28 de nov. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 20 de jan.
Por que algumas pessoas permanecem por anos em relações abusivas, acreditando que, ao serem "boas", os maus-tratos vão cessar? Essa questão é complexa e profunda, especialmente quando analisamos sob a ótica da Psicologia Junguiana.
Desde a infância, algumas crianças experienciam maus-tratos, negligência e outras formas de abuso emocional. Quando uma criança sente raiva de seus pais devido a esses comportamentos, ela muitas vezes percebe que demonstrar essa raiva pode ser extremamente arriscado. Essa dinâmica se torna uma questão de sobrevivência emocional: ao externalizar suas emoções negativas, ela teme ser rejeitada ou abandonada de forma irrevogável. Assim, a criança conecta sua dor emocional à sua própria "maldade", acreditando que ela é, de alguma forma, responsável pelo tratamento que recebe.
Diante dessa realidade, muitas crianças fazem um pacto interno: para garantir que a dor não se repita, decidem ser sempre "boas". Elas esforçam-se para agradar, sempre dizendo as coisas certas e evitando qualquer tipo de confronto. Essa estratégia de sobrevivência, no entanto, tem consequências profundas na vida adulta. O que acontece é que o sentimento de rejeição que a criança percebe se transforma em uma convicção internalizada de que isso é merecido. O diálogo interno dessa pessoa gira em torno da ideia de que, se os outros conhecerem seus verdadeiros sentimentos e fraquezas, também a rejeitarão.
É mais fácil e seguro colocar a responsabilidade da maldade em si mesma do que admitir que teve responsáveis que não foram confiáveis. Essa dinâmica gera uma dependência emocional tóxica, onde a pessoa se sente presa a um ciclo de amor e ódio. É um paradoxo, ela ama o outro, mas ao mesmo tempo, desenvolve um profundo desprezo por si mesma.
Por isso, muitas pessoas permanecem em relacionamentos abusivos, com a esperança de que, ao se esforçarem para serem "boas", mudarão a situação. Entretanto, essa crença distorcida as mantém presas e impede que reconheçam seu próprio valor intrínseco. A compreensão e o trabalho terapêutico podem auxiliar na reestruturação desse diálogo interno, permitindo que a pessoa perceba que a responsabilidade pelos maus-tratos não reside nela, mas sim na dinâmica abusiva do relacionamento.
Uma abordagem junguiana pode ajudar o indivíduo a se reconectar com sua verdadeira essência, isso permitirá que busque relacionamentos mais saudáveis, onde o amor seja genuíno e não uma fonte de dor.

Sobre a autora: Alessandra Hartveld é Psicologa Junguiana, atende presencialmente em Hong Kong e online para outras localidades.
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