Entre Admiração e Inveja: A Frágil Linha Entre Sentimentos
- Alessandra Hartveld

- 9 de jun.
- 2 min de leitura
Atualizado: 11 de jun.
Pois bem, tudo começa com eu e o outro. Preciso muito do outro para entender qual é minha posição na vida e para compreender o lugar que eu ocupo no mundo. O olhar do outro me valida, e, nessa relação, vou buscando uma razão para existir que vá além de mim mesmo. Esse sair de mim é vital, porque, de dentro, não me enxergo...
Essa é uma premissa universal: precisamos do outro como um espelho. Então, eu e o outro é um embate eterno que nos leva a vivenciar sentimentos, às vezes até extremos, pois, através dele, conhecemos nossos limites e saímos das nossas próprias fronteiras. Mas, quando nos deparamos com a vida alheia, nos confrontamos com nossos próprios vazios. Por quê??
Justamente porque as conquistas alheias podem nos apontam indiretamente nossos fracassos, nossos medos, temores e impossibilidades. No fundo não é o que o outro tem ou o que o outro faz que nos causa inveja, mas a ilusão que criamos de que ele, sim, conseguiu preencher o vazio existencial, sanou a dor de existir. Acreditamos que aquela pessoa encontrou um significado pleno e está resolvida.
A inveja, portanto, fala das nossas sementes que estão prontas para germinar. Fala de algo em nós que está à espera de um cuidado, de um olhar. Fala de uma vida que precisa florescer, de algo que pulsa e precisa romper com entraves íntimos, conceitos apodrecidos que estão esquecidos no fundo do nosso ser.
Mas chegar até onde acreditamos que o outro está pode ser muito arriscado. Sentimos que é mais simples ficar com aquilo que temos. É preferível garantir o pouco que temos do que perder todas as proteções, sermos vulneráveis. Assim nos iludimos, achando que é uma escolha nossa não percorrer esse caminho, porque dá medo essa liberdade...
Sair desse lugar de proteção é arriscado, pois nos defrontamos com toda a nossa potência de vida. Por isso mesmo, aquilo que invejamos, no fundo, não é o que o outro tem ou faz, mas a aventura, sua coragem, sua valentia de arriscar tudo. Admiramos, inclusive, sua coragem de chegar ao fim da estrada e se arriscar a perceber que o vazio permanece, é impreenchível.
Talvez seja esse vazio que abarque toda a existência. Talvez esse vazio esteja dentro, esteja fora, esteja em tudo. Talvez esse vazio seja irremediável. Quando nos abrimos totalmente para isso, aí sim, estamos dispostos a viver, a arriscar a sermos livres.

Alessandra é psicóloga de abordagem Junguiana.

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